Nova Hollywood, a new wave americana

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A jovem Jodie Foster em cena de Taxi Driver (1976)
A crise comercial e artística do Cinema Americano, que se agravava ainda mais durante os anos 60, foi a principal impulsionadora do movimento chamado de a Nova Hollywood, onde uma nova geração de cineastas americanos surge junto a trabalhos que buscavam tomar um caminho inverso ao que se tomava no sistema de estúdios. É com esse movimento que, nos EUA, os diretores passaram a ser vistos como verdadeiros artistas e suas produções começaram a possuir identidade.
Laranja Mecânica (1971)
Antes da Nova Hollywood...
A forma de se fazer Cinema no período clássico era baseada em um sistema de estúdios, onde atores, diretores, roteiristas, figurinistas, etc. eram funcionários que trabalhavam de acordo com as demandas de uma empresa (o estúdio). Esse sistema resultava em um padrão bem estabelecido a ser seguido nos filmes produzidos na Hollywood dos anos 20 aos anos 60. Os estúdios também possuíam suas próprias salas de cinema para exibição dos trabalhos produzidos, quanto mais rico o estúdio fosse, mais salas ele teria.
Para atender as demandas do estúdio (estas funcionavam em função do público), as tramas tinham de possuir começo, meio e fim que deviam seguir uma ordem linear (salvo nos momentos de flashback), os filmes tinham fim em si mesmos (sem preocupação com temáticas que levassem a reflexão além das personagens da trama); um determinado conflito era enfrentado pela(s) personagem(s) e a narrativa, pré-estruturada, precisava, por meio de eventos ligados direta ou indiretamente a questão principal, resolver esse conflito. Quanto a gravação, havia um foco psicológico, em torno das personagens, não na técnica; os enquadramentos da câmera ou mesmo o som nunca podiam chamar mais atenção do que os atores em seus papeis e do que o desenvolvimento da trama.
Os grandes estúdios (Paramount, MGM, Universal, RKO e outros) tinham total domínio do que era produzido e liberdade artística para os cineastas não era prioridade. Alfred Hitchcock foi um dos poucos nomes do período clássico que conseguia atender as demandas comerciais e, ao mesmo tempo, dispor de certa liberdade criativa para fazer seus filmes, não é por acaso que em Psicose (1960) notamos algo muito ousado para a época.
E o Vento Levou... (1939) é tido como o principal filme do Período Clássico. No entanto, outros títulos também se destacam, O Mágico de Oz (1939), Eles Preferem as Loiras (1953), Cantando na Chuva (1952), etc. The Jazz Singer (1927) também recebe destaque, pois muitos o consideram o filme de estreia desse período. Um pouco dos filmes e das estrelas da época já passaram por aqui antes.
Porém, enquanto Hollywood mantinha seu Cinema controlado por um sistema focado no consumo burguês que limitava a criação, ao redor do mundo a sétima arte construía-se com criatividade e inovação. Isto é, na época, Hollywood estava muito aquém em relação a grandes trabalhos surgidos em países como Espanha, Japão, União Soviética, Alemanha, e até mesmo Brasil se considerarmos o Cinema Novo dos anos 60 com Glauber Rocha...

Alguns exemplos de bem antes da crise do sistema de estúdios:
Fora de Hollywood, ainda no comecinho dos anos 20, F. W. Murnau, lançava o perseguido Nosferatu (1922), posteriormente, Metrópolis (1927) de Fritz Lang passava a fazer parte das produções alemãs; na União Soviética, Eisenstein lançava A Greve (1924) e o Encouraçado Potemkin (1925); nos anos 30, o espanhol Luis Buñuel, junto a Salvador Dali, lançavam o surreal Idade do Ouro (1930), o alemão Josef von Sternberg lançava O Anjo Azul (1930); durante os anos 40 no Japão, Kurosawa faz sua estreia como diretor. Esses são apenas alguns poucos nomes...
 
Cena de Lolita (1962)
Com a Nova Hollywood...
Com a Nova Hollywood, elementos pouco convencionais faziam parte das produções, exploravam-se novos temas e técnicas de gravação. Este é o início da new wave para o Cinema Americano. Dentre seus representantes mais populares estão Martin Scorsese, Clint Eastwood, Steven Spielberg, Stanley Kubrick, Woody Allen, Francis Ford Coppola, Roman Polanski e outros. Logo abaixo, alguns recomendadíssimos títulos desse período…


Taxi Driver (1976)
Título original: Taxi Driver
Ambientado pouco depois da Guerra do Vietnã, essa consagrada produção dirigida por Martin Scorsese é responsável pelo reconhecimento e pela fama de Robert De Niro e Jodie Foster. Robert De Niro interpreta Travis Bickle, jovem de 26 anos frustrado e que alega ser ex-fuzileiro naval. Longe de sua suposta vida antiga, ele agora trabalha de taxista nas madrugadas de Nova York. Travis passa seu tempo livre assistindo a filmes pornográficos em cinemas meia-boca e costuma usar violência contra tudo que considera errado na sociedade. Assim que conhece Íris (Jodie Foster), uma prostituta de 12 anos, ele começa a ficar obcecado pela ideia de salvá-la. A cena de clímax do filme precisou ser retocada para que os tons de vermelho do sangue fossem suavizados. A atriz Judie Foster passou por testes psicológicos para garantir que não haveria nenhum tipo de trauma durante a cena em questão. Ela afirmou ter participado da montagem dos efeitos e acompanhado o processo onde tudo foi explicado em seus mínimos detalhes. Travis é transformado em herói pelas manchetes de jornais por conta de um acidente de percurso durante uma de suas atitudes drásticas, a grande ironia de Taxi Driver.


Bonnie e Clyde (1967)
Título original: Bonnie & Clyde
Dirigido por Arthur Penn e estrelado por Faye Dunaway e Warren Beatty, Bonnie e Clyde está entre os primeiros representantes da Nova Hollywood. A história baseada no famoso casal de criminosos americanos de mesmo nome quebrou tabus existentes na Indústria da sétima arte e, ao mesmo tempo, ficou bem popular entre os jovens e abriu caminho para que violência e sexo pudessem ser elementos na construção de tramas para filmes que surgiram posteriormente. Os primeiros passos para o roteiro deram-se no começo dos anos 60, ainda influenciados pela Nouvelle Vague (a new wave francesa). O projeto do filme passou por nomes como Truffaut (O Garoto Selvagem, 1970) e Godard (Masculino/Feminino, 1966) e acabou nas mãos de Penn. A icônica cena final de Bonnie e Clyde é tida como uma das mais sangrentas mortes da história do Cinema; um precursor dos filmes de ação que temos hoje em dia.


O Poderoso Chefão (1972, 1974, 1990)
Título original: The Godfather
A obra-prima do diretor Francis Ford Coppola, a franquia é uma adaptação do romance de Mario Puzo e narra a ascensão e a queda da mafiosa família Corleone. Considerado pelo American Film Institute um dos melhores filmes americanos, nos E.U.A. a franquia foi aclamadíssima somando um total de surpreendentes 28 indicações ao Oscar, ganhando 9. O Poderoso Chefão é um daqueles títulos fundamentais para se entender o Cinema Americano. Possui também grande elenco, Marlon Brando, Al Pacino, Diane Keaton, Andy Garcia, Robert De Niro, Talia Shire, Joe Mantegna, Sofia Coppola e outros.
O primeiro título da franquia data do ano de 1972, estrelando Marlon Brando e Al Pacino, nos personagens de Vito Corleone e seu filho Michael, respectivamente. A primeira produção recebeu baixo orçamento (cerca de 2 milhões de dólares) da Paramount; o ainda jovem Francis Ford Coppola desfrutava de pouca credibilidade. No entanto, o filme fez um surpreendente sucesso tornando-se um dos títulos mais importantes do estúdio e consagrando o jovem diretor. Em 1974, temos O Poderoso Chefão Parte II, agora com muito mais apoio financeiro. Nesse novo roteiro, acompanhamos a ascensão de Michael como sucessor de seu pai e a humilde ascensão do jovem Don Vito (Robert De Niro) até tornar-se Vito Corleone. Assim, duas gerações da família Corleone são apresentadas de forma paralela.
De acordo com o próprio Coppola, O Poderoso Chefão foi idealizado junto a Mário Puzo para ser composto de dois capítulos e um epílogo, este último sendo a terceira parte da franquia. Com isso, em 1990, 16 anos após a segunda parte, O Poderoso Chefão Parte III é lançado. Originalmente o filme receberia o título de ‘A Morte de Michael Corleone’, mas a proposta foi recusada pela Paramount Pictures. A queda do império Corleone é o que sustenta essa nova história, a decadência, o arrependimento e a obrigação de lidar com as consequências de suas escolhas são o que assombram o agora velho Michael Corleone. Uma vez que Michael não é mais um personagem tão ativo e está bem mais introspectivo, as cenas de ação passam a ser protagonizadas pelo seu sobrinho Vicent Corleone interpretado por um ainda jovem Andy Garcia. O diretor ressalta a importância da personagem de Vicent para a trama dizendo que, quando um trabalho é feito com uma sequência de um filme de sucesso, passa a existir um elo obrigatório com sua fórmula, isto é, certos elementos presentes nos filmes anteriores precisavam ser mantidos para atrativo do público. Por isso a violência viciosa desse novo personagem era algo necessário. A filha do diretor, Sofia Coppola tem um papel importante na trama (Mary Corleone, filha de Michael), e foi um dos principais alvos de críticas hostis na época. Em relação aos títulos anteriores, o terceiro filme não possui independência, é necessário que conheçamos os dois primeiros para compreendê-lo. Além disso, essa é a queda dos Corleone e não há mais as reviravoltas que farão com que Michael sempre saia vitorioso em suas empreitadas.


Lolita (1962)
Título original: Lolita
Alvo de forte censura no começo dos anos 60, a obra Lolita, do diretor Stanley Kubrick causou polêmica por retratar a obsessão de um homem de meia idade por uma bela adolescente. Baseado na novela homônima de Vladimir Nabokov, o filme abusa de sequências provocativas que incitam a audiência a imaginar o que ocorre após cada take sugestivo. Kubrick diz que devido a Censura e a pressão da Catholic Legion of Decency, não pôde retratar de forma mais fiel o conteúdo mais explícito do livro, e que se pudesse voltar no tempo, o teria feito em vários momentos. Com isso, a devoção de Humpert (James Mason) por Dolores “Lolita” Haze (Sue Lyon) – a atriz na época tinha 14 anos – , inicialmente é mostrada pelo diretor por meio de pequenos atos (Humpert pintando as unhas de Lolita, por exemplo) que aos poucos são refletidos em suas emoções que se intensificam a medida que a trama avança. Além disso, a idade da personagem principal foi aumentada, no livro ela tem somente 12 anos. Embora o filme tenha sido lançado sem cortes, ele foi restrito (Rated X). P.S. Posteriormente, Stanley Kubrick lançaria outras obras primas da Nova Hollywood, como Laranja Mecânica (1971) e O Iluminado (1980).


Perdidos na Noite (1969)
Título original: Midnight Cowboy
Com direção de John Schlesinger (baseado no romance homônimo de James Leo Herlihy), Perdidos na Noite conta a história de Joe (Jon Voight) um texano que trabalha lavando pratos, que pede demissão e põe o pé na estrada rumo a Nova York para ganhar a vida se prostituindo, seu alvo são as mulheres ricas. Lá ele conhece Enrico Salvatore (Dustin Hoffman) que viria a ser seu cafetão e, com o passar do tempo, acaba sendo também um amigo. A inocência e entusiasmo de Joe em relação ao sonho de ganhar a vida com a prostituição, aos poucos, causa frustração a quem assiste; gradativamente se nota que aquilo não vai dar certo (mas Joe não nota). Além disso, o otimismo de Joe se contrapõe a sua psiqué, que constantemente é ilustrada por cenas fortes de agressão e violência sexual. Lembranças? Desejos reprimidos? As duas coisas? Não dá pra saber. Um retrato clássico de sonhos que são destruídos por uma realidade que não está em nossas mãos (mesmo aqueles sonhos que não parecem tão plausíveis pra maioria das pessoas). Para época, o filme foi bastante polêmico, primeiramente recebeu um Rated R, depois, um Rated X (que significa que ninguém com menos de 16 anos devia assistir). A restrição ocorreu por conta de algumas referências homossexuais (isso era há quase 50 anos atrás, sabe como é, né?).
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Um comentário:

  1. o único filme dessa lista de filmes de Hollywood que eu nunca tinha ouvido falar é o Perdidos na Noite! com certeza assistirei a esse filme! só clássicos de primeira essa New Wave produziu!!! Marcos Punch.

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