A jovem Jodie Foster em cena de Taxi Driver (1976) |
A crise comercial e artística do Cinema
Americano, que se agravava ainda mais durante os anos 60, foi a principal
impulsionadora do movimento chamado de a Nova Hollywood, onde uma nova geração
de cineastas americanos surge junto a trabalhos que buscavam tomar um caminho
inverso ao que se tomava no sistema de estúdios. É com esse movimento que, nos
EUA, os diretores passaram a ser vistos como verdadeiros artistas e suas
produções começaram a possuir identidade.
Antes da Nova Hollywood...
A forma de se fazer Cinema no período
clássico era baseada em um sistema de estúdios, onde atores, diretores,
roteiristas, figurinistas, etc. eram funcionários que trabalhavam de acordo com
as demandas de uma empresa (o estúdio). Esse sistema resultava em um padrão bem
estabelecido a ser seguido nos filmes produzidos na Hollywood dos anos 20 aos
anos 60. Os estúdios também possuíam suas próprias salas de cinema para
exibição dos trabalhos produzidos, quanto mais rico o estúdio fosse, mais salas
ele teria.
Para atender as demandas do estúdio
(estas funcionavam em função do público), as tramas tinham de possuir começo,
meio e fim que deviam seguir uma ordem linear (salvo nos momentos de flashback), os filmes tinham fim em si
mesmos (sem preocupação com temáticas que levassem a reflexão além das
personagens da trama); um determinado conflito era enfrentado pela(s)
personagem(s) e a narrativa, pré-estruturada, precisava, por meio de eventos
ligados direta ou indiretamente a questão principal, resolver esse conflito.
Quanto a gravação, havia um foco psicológico, em torno das personagens, não na
técnica; os enquadramentos da câmera ou mesmo o som nunca podiam chamar mais
atenção do que os atores em seus papeis e do que o desenvolvimento da trama.
Os grandes estúdios (Paramount, MGM,
Universal, RKO e outros) tinham total domínio do que era produzido e liberdade
artística para os cineastas não era prioridade. Alfred Hitchcock foi um dos
poucos nomes do período clássico que conseguia atender as demandas comerciais
e, ao mesmo tempo, dispor de certa liberdade criativa para fazer seus filmes,
não é por acaso que em Psicose (1960)
notamos algo muito ousado para a época.
E
o Vento Levou... (1939) é tido como o principal filme do
Período Clássico. No entanto, outros títulos também se destacam, O Mágico de Oz (1939), Eles Preferem as Loiras (1953), Cantando na Chuva (1952), etc. The Jazz Singer (1927) também recebe
destaque, pois muitos o consideram o filme de estreia desse período. Um pouco
dos filmes e das estrelas da época já passaram por aqui antes.
Porém, enquanto Hollywood mantinha seu
Cinema controlado por um sistema focado no consumo burguês que limitava a
criação, ao redor do mundo a sétima arte construía-se com criatividade e
inovação. Isto é, na época, Hollywood estava muito aquém em relação a grandes
trabalhos surgidos em países como Espanha, Japão, União Soviética, Alemanha, e
até mesmo Brasil se considerarmos o Cinema Novo dos anos 60 com Glauber
Rocha...
Alguns exemplos de bem antes da crise
do sistema de estúdios:
Fora de Hollywood, ainda no comecinho
dos anos 20, F. W. Murnau, lançava o perseguido Nosferatu (1922), posteriormente, Metrópolis (1927) de Fritz Lang passava a fazer parte das produções
alemãs; na União Soviética, Eisenstein lançava A Greve (1924) e o Encouraçado
Potemkin (1925); nos anos 30, o espanhol Luis Buñuel, junto a Salvador
Dali, lançavam o surreal Idade do Ouro
(1930), o alemão Josef von Sternberg lançava O Anjo Azul (1930); durante os anos 40 no Japão, Kurosawa faz sua
estreia como diretor. Esses são apenas alguns poucos nomes...
Com a Nova Hollywood...
Com a Nova Hollywood, elementos pouco
convencionais faziam parte das produções, exploravam-se novos temas e técnicas
de gravação. Este é o início da new wave
para o Cinema Americano. Dentre
seus representantes mais populares estão Martin Scorsese, Clint Eastwood,
Steven Spielberg, Stanley Kubrick, Woody Allen, Francis Ford Coppola, Roman
Polanski e outros. Logo abaixo, alguns recomendadíssimos
títulos desse período…
Taxi
Driver (1976)
Título
original: Taxi Driver
Ambientado pouco depois da Guerra do
Vietnã, essa consagrada produção dirigida por Martin Scorsese é responsável
pelo reconhecimento e pela fama de Robert De Niro e Jodie Foster. Robert De
Niro interpreta Travis Bickle, jovem de 26 anos frustrado e que alega ser
ex-fuzileiro naval. Longe de sua suposta vida antiga, ele agora trabalha de
taxista nas madrugadas de Nova York. Travis passa seu tempo livre assistindo a
filmes pornográficos em cinemas meia-boca e costuma usar violência contra tudo
que considera errado na sociedade. Assim que conhece Íris (Jodie Foster), uma
prostituta de 12 anos, ele começa a ficar obcecado pela ideia de salvá-la. A
cena de clímax do filme precisou ser retocada para que os tons de vermelho do
sangue fossem suavizados. A atriz Judie Foster passou por testes psicológicos
para garantir que não haveria nenhum tipo de trauma durante a cena em questão.
Ela afirmou ter participado da montagem dos efeitos e acompanhado o processo
onde tudo foi explicado em seus mínimos detalhes. Travis é transformado em
herói pelas manchetes de jornais por conta de um acidente de percurso durante
uma de suas atitudes drásticas, a grande ironia de Taxi Driver.
Bonnie
e Clyde (1967)
Título
original: Bonnie & Clyde
Dirigido por Arthur Penn e estrelado por
Faye Dunaway e Warren Beatty, Bonnie e
Clyde está entre os primeiros representantes da Nova Hollywood. A história
baseada no famoso casal de criminosos americanos de mesmo nome quebrou tabus
existentes na Indústria da sétima arte e, ao mesmo tempo, ficou bem popular
entre os jovens e abriu caminho para que violência e sexo pudessem ser
elementos na construção de tramas para filmes que surgiram posteriormente. Os
primeiros passos para o roteiro deram-se no começo dos anos 60, ainda
influenciados pela Nouvelle Vague (a new wave francesa). O projeto do filme
passou por nomes como Truffaut (O Garoto Selvagem, 1970) e Godard
(Masculino/Feminino, 1966) e acabou nas mãos de Penn. A icônica cena final de
Bonnie e Clyde é tida como uma das mais sangrentas mortes da história do
Cinema; um precursor dos filmes de ação que temos hoje em dia.
O
Poderoso Chefão (1972, 1974, 1990)
Título
original: The Godfather
A obra-prima do diretor Francis Ford
Coppola, a franquia é uma adaptação do romance de Mario Puzo e narra a ascensão
e a queda da mafiosa família Corleone. Considerado pelo American Film Institute
um dos melhores filmes americanos, nos E.U.A. a franquia foi aclamadíssima
somando um total de surpreendentes 28 indicações ao Oscar, ganhando 9. O Poderoso Chefão
é um daqueles títulos fundamentais para se entender o Cinema Americano. Possui
também grande elenco, Marlon Brando, Al Pacino, Diane Keaton, Andy Garcia,
Robert De Niro, Talia Shire, Joe Mantegna, Sofia Coppola e outros.
O primeiro título da franquia data do
ano de 1972, estrelando Marlon Brando e Al Pacino, nos personagens de Vito
Corleone e seu filho Michael, respectivamente. A primeira produção recebeu
baixo orçamento (cerca de 2 milhões de dólares) da Paramount; o ainda jovem
Francis Ford Coppola desfrutava de pouca credibilidade. No entanto, o filme fez
um surpreendente sucesso tornando-se um dos títulos mais importantes do estúdio
e consagrando o jovem diretor. Em 1974, temos O Poderoso Chefão Parte II, agora com muito mais apoio financeiro.
Nesse novo roteiro, acompanhamos a ascensão de Michael como sucessor de seu pai
e a humilde ascensão do jovem Don Vito (Robert De Niro) até tornar-se Vito
Corleone. Assim, duas gerações da família Corleone são apresentadas de forma
paralela.
De acordo com o próprio Coppola, O Poderoso Chefão foi idealizado junto a
Mário Puzo para ser composto de dois capítulos e um epílogo, este último sendo
a terceira parte da franquia. Com isso, em 1990, 16 anos após a segunda parte, O Poderoso Chefão Parte III é lançado.
Originalmente o filme receberia o título de ‘A Morte de Michael Corleone’, mas
a proposta foi recusada pela Paramount Pictures. A queda do império Corleone é
o que sustenta essa nova história, a decadência, o arrependimento e a obrigação
de lidar com as consequências de suas escolhas são o que assombram o agora
velho Michael Corleone. Uma vez que Michael não é mais um personagem tão ativo
e está bem mais introspectivo, as cenas de ação passam a ser protagonizadas
pelo seu sobrinho Vicent Corleone interpretado por um ainda jovem Andy Garcia.
O diretor ressalta a importância da personagem de Vicent para a trama dizendo
que, quando um trabalho é feito com uma sequência de um filme de sucesso, passa
a existir um elo obrigatório com sua fórmula, isto é, certos elementos presentes
nos filmes anteriores precisavam ser mantidos para atrativo do público. Por
isso a violência viciosa desse novo personagem era algo necessário. A filha do
diretor, Sofia Coppola tem um papel importante na trama (Mary Corleone, filha
de Michael), e foi um dos principais alvos de críticas hostis na época. Em
relação aos títulos anteriores, o terceiro filme não possui independência, é
necessário que conheçamos os dois primeiros para compreendê-lo. Além disso,
essa é a queda dos Corleone e não há mais as reviravoltas que farão com que
Michael sempre saia vitorioso em suas empreitadas.
Lolita
(1962)
Título
original: Lolita
Alvo de forte censura no começo dos anos
60, a obra Lolita, do diretor Stanley
Kubrick causou polêmica por retratar a obsessão de um homem de meia idade por
uma bela adolescente. Baseado na novela homônima de Vladimir Nabokov, o filme
abusa de sequências provocativas que incitam a audiência a imaginar o que
ocorre após cada take sugestivo. Kubrick
diz que devido a Censura e a pressão da Catholic
Legion of Decency, não pôde retratar de forma mais fiel o conteúdo mais
explícito do livro, e que se pudesse voltar no tempo, o teria feito em vários
momentos. Com isso, a devoção de Humpert (James Mason) por Dolores “Lolita”
Haze (Sue Lyon) – a atriz na época tinha 14 anos – , inicialmente é mostrada
pelo diretor por meio de pequenos atos (Humpert pintando as unhas de Lolita,
por exemplo) que aos poucos são refletidos em suas emoções que se intensificam
a medida que a trama avança. Além disso, a idade da personagem principal foi
aumentada, no livro ela tem somente 12 anos. Embora o filme tenha sido lançado
sem cortes, ele foi restrito (Rated X).
P.S. Posteriormente, Stanley Kubrick
lançaria outras obras primas da Nova Hollywood, como Laranja Mecânica (1971) e O
Iluminado (1980).
Perdidos
na Noite (1969)
Título
original: Midnight
Cowboy
Com direção de John Schlesinger (baseado
no romance homônimo de James Leo Herlihy), Perdidos
na Noite conta a história de Joe (Jon Voight) um texano que trabalha
lavando pratos, que pede demissão e põe o pé na estrada rumo a Nova York para
ganhar a vida se prostituindo, seu alvo são as mulheres ricas. Lá ele conhece
Enrico Salvatore (Dustin Hoffman) que viria a ser seu cafetão e, com o passar
do tempo, acaba sendo também um amigo. A inocência e entusiasmo de Joe em
relação ao sonho de ganhar a vida com a prostituição, aos poucos, causa
frustração a quem assiste; gradativamente se nota que aquilo não vai dar certo
(mas Joe não nota). Além disso, o otimismo de Joe se contrapõe a sua psiqué,
que constantemente é ilustrada por cenas fortes de agressão e violência sexual.
Lembranças? Desejos reprimidos? As duas coisas? Não dá pra saber. Um retrato
clássico de sonhos que são destruídos por uma realidade que não está em nossas
mãos (mesmo aqueles sonhos que não parecem tão plausíveis pra maioria das
pessoas). Para época, o filme foi bastante polêmico, primeiramente recebeu um
Rated R, depois, um Rated X (que significa que ninguém com menos
de 16 anos devia assistir). A restrição ocorreu por conta de algumas
referências homossexuais (isso era há quase 50 anos atrás, sabe como é, né?).
o único filme dessa lista de filmes de Hollywood que eu nunca tinha ouvido falar é o Perdidos na Noite! com certeza assistirei a esse filme! só clássicos de primeira essa New Wave produziu!!! Marcos Punch.
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