O HOMEM QUE FUGIU PRA LUA #2

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Camile e os garotos
[parte dois]




Da lua para minha realidade. Acordei hoje com batidas fortes na porta. “_Cacete.” Quem vai infortunar os outros em plena 7h do sábado? “_Puta” Não a Camile, ou sim, enfim. Mas esqueci completamente dos garotos. Só podia ser Camile mesmo para torturar minha paz. _Camile! Eu digo com um sorriso falso e olhos odiosos e detalhe, vermelhos.
_Não me venha com desculpas esfarrapadas, você deveria ter pego os garotos ontem. Grita Camile. Ok, ela não gritou, mas pra mim, só sai gritos da boca de Camile.
_Oi garotos? Renego completamente o show desnecessário de Camile e pulo para parte punk da cena, “_Meus filhos.” Que fazem o mesmo que o pai deles, me renegam “_Orgulhos do papai.”
Sento no meu sofá bagunçado, na minha sala bagunçada, da minha casa bagunçada, e observo, na função [MUTE] é claro, o show de Camile. Não sei o que está saindo da boca dela, mas parece que ela está realmente “_PUTA” ops “_Com raiva, odiosa, insatisfeita, enfim, escolha um termo, eu já tenho o meu.”
Os garotos como o pai, renegam tudo em volta. Ambos no celular. “_Oh geração”. Observo Camile falando, gesticulando, birrando e penso, “_Amei essa mulher de um jeito que parecia que sem ela nada faria sentido.” E hoje, olho e penso, “_Caramba como ela é chata.” Mas confesso, tivemos nossos bons momentos. E põe bons nisso. Conheci Camile na universidade. Era a mais em tudo. Mais inteligente. Mais dedicada. Mais linda. Mais sociável. Mais gostosa. Mais rica. Enfim, e eu ali, no meio de uma turma cheia de vontade de ser o melhor no mundo, passei boa parte do curso só amando ela pra mim mesmo. “_Sou tímido”. Ok. “_Sou gostoso.” Não por ai. “_Sou inteligente”. Estou mais pra critico.
Então, fui numa festa com uns amigos e encontrei Camile com umas amigas gostosas. Mas Camile era a mais. É claro. Bebemos umas cervejas. Dançamos. “_tentei” e depois fomos pra cama. “_de um motel”. Naquele tempo, morava com os meus pais, que são estranhos. E ela morava com os dela, que eram ricos, chatos e caretas. “_Resumindo, chatos”. No motel transamos muito. “_E deu match.” Depois, transamos muito mais. Não só no motel, como em todos os lugares que dava. E depois? “_Deu merda”. Ela engravidou. E eu arquei com as consequências. Que foram duas consequências de uma só vez. Que se resumem em “Os garotos”.
Não sei como a visita de Camile em minha casa em pleno sábado terminou, mas pulei toda aquela situação e fui para parte que volto a dormir enquanto os garotos ficam na sala usando meu WiFi. E para minha infelicidade, “_ou felicidade” ao fechar os olhos e me deparo com um quase sonho erótico com Camile, e isso me fez acordar para vida, pro sábado, pros garotos.
Sento no sofá enquanto os garotos jogam videogame, “_não tem presente melhor para mim mesmo e para meus garotos, se não um videogame de última geração, para manter essa geração calada e a minha viva.”
Observo os gêmeos, e como todo pai, tento encontrar as semelhanças. O que tem de mim, e o que tem da Camile. Primeiramente, eles já são desligados, desapegados e “descomunicável”, isso não existe, é claro, mas entenderam. E esses termos maravilhosos me definem. Eu acho. Lembro de uma situação chata em que os garotos me pegaram assistindo pornô. Bem, isso foi embaraçoso. E como eram pequenos, passaram um bom tempo, me perguntando sobre “_coisas”.
_Papai porque aquela mulher estava gritando?
_Papai porque aquele homem estava batendo naquela mulher?
_Papai o que era aquele negócio no rosto daquela mulher?
“_Oh céus” pensei, nunca terei como agradecer os filmes do Harry Potter que comprei e dei para eles. “_e claro, eles esqueceram aquelas imagens, e passaram a me assustar com gritos de palavras estranhas.”
_É uma mágica para deixar o papai engraçado. Respondeu um deles quando perguntei “_Filho o que você sempre grita quando contos as piadas para vocês antes de dormir?” Nunca fui engraçado mesmo. Mas com os garotos, ter uma conversa sempre é muito difícil. “_Eles não gostam muito de falar” sobre o que pode está rolando na vida deles. Já tentei falar sobre tudo. Se minha vida fosse um filme, as cenas quase sempre seriam silenciosas e eu estaria sentado em algum lugar “_em diversos cenários”, e as câmeras rodam sobre mim, mostrando  toda a minha realidade apática e tediosa. Neste caso, com meus garotos, estamos sentados, olhando um para o outro, em silêncio. E dentro de nossas cabeças, no mínimo, um vácuo sem fim.
“_E as namoradinhas?” pergunto, ao socorrer para Marieta que sempre tem a resposta que preciso. “_Beijando muito?” insisto, mas ambos nem olham para minha cara, e agradeço por isso, pois estou com vergonha de mim. Vergonha daquilo. Vergonha alheia. Lembro de um tempo que tentei falar sobre bullying, mas meus garotos não fazem o tipo que sofrem bullying. “_Eu acho que não, eu nunca sofri no meu tempo de escola”. Sempre fui lerdo demais para entender alguma brincadeira de mal gosto de alguém que não está bem consigo mesmo, e tenta refletir seus defeitos nos outros. Creio que meus garotos são exatamente assim.
Dou espaço para os garotos, pois sei que estão implorando por isso. Sento um pouco com Marieta e penso “_Marieta, que tédio”. Ela é claro, me mostra dois irmãos estudando e penso, “_Ok Marieta, eu sei que tenho milhares de provas para corrigir, mas não é exatamente isso que quero fazer agora” ou nunca. Mais abaixo, vejo um casal assistindo alguma coisa, estão bem animadinhos. E observo que devem neste exato momento, está falando um para o outro que _Amor, meu amor, seremos um só para vida toda. Eu rio da situação. _Querida, você é minha para sempre. Eu rio de novo. _Nosso amor será eterno. Ok, penso eu, “_sério isso?” e me veio a cabeça a declaração de um professor _até as células se separam.
_Pai? Ouço essa palavra e juro, que nunca associo a mim.
_Oi? Respondo ainda olhando para Marieta.
_Estamos com fome. “_Claro que seria fome.” esses meninos só abrem a boca para mim para duas coisas, “_dinheiro ou comida”.

_Vamos comer. Respondo eu.




Art by Henn Kim

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