Namie Amuro é uma das cantoras mais populares e influentes do Japão atualmente. |
“A música pop japonesa (J-POP) trata-se
de um sistema industrial complexo e único onde televisão, publicidade,
tecnologia e internet são combinados para criar produtos globalizados.
Estratégias de marketing precisas e condicionadas por diferentes mídias
(televisão, propaganda, karaokê e downloads em aparelhos de celular) são
máquinas que representam a disseminação da cultura e resultam em milhões de
discos vendidos a despeito da crise da Indústria discos físicos. Esse estilo
musical dissipou as sombras estabelecidas pela cultura de mangá, videgames e
animação japonesa.
Gackt |
Com
o objetivo de atingir o maior número de público possível, artistas e produtores
tem de atender aos desejos da mídia, sujeitos ao consentimento da marca que
está promovendo a imagem da banda/artista. Para fazer uma música, por exemplo,
produtores e compositores têm de produzir de cerca de 15 a 30 segundos da faixa
(esta precisa atender a demanda da massa, sendo algo de fácil digestão para os ouvidos
do grande público) diretamente para seus patrocinadores. Uma vez que a faixa de
poucos segundos é aprovada, a música completa será criada e se tornará a música
título do álbum. Assim como a imagem do ídolo, a música será moldada para
melhor representar a marca (cantoras para cosméticos, cantores para bebidas
alcoólicas, por exemplo).
Outra mídia, ainda mais influente e
tipicamente japonesa é o karaokê. No Japão, trata-se de uma Indústria por si
só, estando em terceiro lugar nas vendas da indústria de lazer. Grandes redes
de empresas possuem centenas de karaokê boxes ao redor do país. Esses
estabelecimentos são totalmente dedicados ao karaokê, 24 horas por dia, 7 dias
por semana. Participar dessa rede de enorme alcance de público é vital para as
gravadoras. Por conta disso, os produtores de J-POP são rígidos com os
compositores do ramo: as músicas principais de um artista (aquelas faixas do
disco que ganham videoclipes e são promovidas em performances ao vivo) precisam
ter melodias simples e letras fáceis de se cantar. Assim sendo, a música tem de
estar pronta para o uso na mídia tradicional e para ser cantada pelo público
dos karaokês. Além disso, apresentando mais oportunidade de consumo, houve a
chegada dos modernos aparelhos de celular. A despeito do que o senso comum pode
nos fazer pensar, esses aparelhos em sua forma mais moderna surgiram no Japão
ainda nos anos 90, bem antes dos Smartphones do Ocidente. 9 de cada 10
japoneses possuíam celulares que conectavam-se a internet. (...) Os Japoneses vem baixando MP3 desde 1995.” (STÉPHANE
CHAPUY, 2010).
No tocante aos artistas e bandas, o que
temos do Japão é o que se chama de Idol
System, em uma tradução livre, “sistema de ídolos”, onde personalidades da
mídia são criadas de forma a instigar o consumo (de seus CDs/DVDs e de produtos
diversos que usam sua imagem para conseguir popularidade e ganhar em vendas).
Bruno Latour (2005) diz que talvez uma abordagem consistente acerca das marcas
que contém os ídolos, seja considerá-las unidades distribuídas sobre uma rede
de atores que faz com que as interações aconteçam. Isso significa que os ídolos
não apenas promovem a venda de produtos e serviços, mas são produzidos pelos
produtos e serviços que eles mesmos vendem. Sem algo para anunciar, o ídolo
perde a importância. Isso também funciona como algo que leva o consumidor
japonês a interessar-se mais pelo mercado interno.
Mais que ídolos vendendo produtos, o que
temos é um sistema de comodidades que vende os ídolos. Focando somente no ídolo
e somente nele, pode-se perder a noção da rede de relações que o está
produzindo. Equivocadamente acredita-se que as marcas os produzem para aparecer
na TV ou em qualquer outra mídia, mas o sistema capitalista também precisa de
alguém para ser o “garoto(a) propaganda” e alavancar vendas. O ídolo então é
uma ponte na rede do sistema capitalista no Japão que liga o consumidor ao
produto. Isso ocorre de forma eficiente devido ao fato do Japão possuir uma
cultura de mídia que cultua e supervaloriza as celebridades usando mecanismos
específicos para a criação de intimidade entre público e pessoa pública. Um
desses mecanismos é a superexposição, de acordo com Latour (2005): os japoneses
são expostos frequentemente a esses ídolos em toda parte, revistas nas bancas,
anúncios na frente das lojas e outros estabelecimentos, outdoors espalhados por
todos os lugares, programas de variedades na TV, anúncios na internet e até
mesmo nos noticiários. Dessa forma, um determinado rosto sempre acaba sendo
familiar.
P.S.
Para mais informações a respeito da relação entre público e persona na cultura
japonesa, conheçam o livro Idols and
Celebrity: Japanese Media Culture de autoria de Patrick W. Galbraith &
Jason G. Karlin. Está disponível em PDF gratuitamente na internet. É só dá um Google!
Ótimo post ^^
ResponderExcluirPost excelente! isso é que é Capitalismo Músical Selvagem! Marcos Punch.
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