A pernambucana Karina Buhr voltou ao
mercado fonográfico mais feroz do que nunca em Selvática. Confrontando
não só o machismo, mas o conformismo feminino, Karina luta por consciência não
só por parte dos homens, mas principalmente de parcela da população feminina
que ainda não está sensibilizada em relação a própria libertação; nos versos de
Eu Sou Um Monstro a artista diz “Mulher, tua apatia te mata. Não queira de
graça o que nem você dá pra você.”.
Pic
Nic é de longe a minha faixa favorita, soa como um diálogo entre classe
dominante e oprimidos, a vida de quem dá duro pra conseguir o pão de cada dia e
a vida de quem não precisa se esforçar tanto por pertencer a um classe
dominante e opressora. A faixa título do disco encerra o álbum como um tipo de
manifesto que ao mesmo tempo é oração, evangelho das bruxas e apelo “Não ferirás nenhum corpo por ser feminino
com faca ou murro ou graveto! [...] E no final ideal não terás domínio sobre
mulher alguma! Ela come a selva de fora! Ela vem da selva de dentro! Ela vale a
própria hora! Ela vale o pensamento”. Explicita elementos culturais
opressores de nossa realidade, desde os hábitos cotidianos aos princípios de um
discurso religioso que tem no patriarcado sua força motriz. Selvática
(onde Karina está mais afiada) é o resultado de reflexões já presentes
em seus trabalhos anteriores e que dessa vez vai mais fundo ainda, põe o dedo
na ferida e confronta o cotidiano brutal dos brasileiros e, principalmente da
mulher brasileira.