Cap. 11 - De Pai para Filho

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Julio acorda com o barulho de sua irmã Juju arrumando sua mochila para o tal encontro da igreja. _Então você não vai mesmo? Pergunta Juju fechando o zíper. Julio vira pro lado da parede cobrindo a cabeça com o travesseiro. _Ok, entendi... Você é um desviado safado que vai queimar lá no inferno...


_Ju sai logo desse quarto, quero dormir caramba! Grita Julio por baixo dos panos

_Ju sai logo... A garota sai desdenhando Julio

_Patética! Murmura Julio fechando mais forte os olhos.



“A mesma cena correndo até encontrar a dama e o lobo negro se repetia varias vezes, muitas vezes com cenas retorcidas e borradas”


Julio acorda soado. Decide tomar um banho. Hoje é domingo, dia de sair com os amigos para algum sitio. Ou barzinho... Mas o humor de Julio está sombrio para esse tipo de programa. Mesmo acordando tarde, parece que o dia não passa. Pela primeira vez depois de muito tempo, Julio se encontra sozinho na mesa com seu pai que sempre está fazendo algo. O senhor pai de Julio vive da arte, fazendo trabalhos para uns e pra outros. Julio desaprova essa vida, e sempre deixou claro que igual ao pai não vai ser.
Hora do almoço, Julio sentado de frente pro pai que mexia na comida olhando pro teto, lembra-se de uma noite passada em que Ygo triste conversava sobre a falta do pai.

“_Julio às vezes me pego sentindo inveja de você!
_Como? Você sempre está um passo a minha frente Ygo!
_Não estou não, você tem um pai que sempre está ai quando você precisa, enquanto eu...
_Cara, você nunca tinha me falado sobre o seu pai.
_Pois é o meu pai não gosta dos filhos que têm.
_Não existe isso. Todo pai gosta do filho...
_O seu gosta, o meu não!
_Chato isso...”

 _Pai? Começa Julio voltando para sua realidade _Pai... Tenta mais uma vez ao perceber que nunca tenta se aproximar do pai. E sempre desiste na primeira tentativa falha.
_Oi?
_É...
_O que?
_Nunca lhe vejo com amigos...
_Você brigou com os seus amigos Julio? Pergunta o homem ainda sem olhar pro filho
_Como? Perguntou Julio já assustado por saber que o pai sabe que ele tem amigos. _O que o senhor disse?
_Julio, meu filho, não sofra com a ilusão de ter um amigo...
_Não entendi pai... Julio não entendeu mesmo.
_Não existe amigo. Amigo é uma palavra criada pelo homem para identificar aqueles que estão ali por perto por interesse.
_Pai isso não parece certo...
_Você veio ao mundo sozinho, e irá sair dele do mesmo jeito! O homem se levanta _Não se esqueça disso! Depois se senta na frente do seu computador. Julio fica pensativo e triste.


A tarde passa lenta, Julio fica enfurnado no quarto escuro andando de um lado pro outro sem camisa. Seus pensamentos gritam em sua cabeça que dói tentando entender tudo isso.

_Você está certo pai, ninguém tem amigos! Julio cai na cama, e olhando pra uma aranha que ali passava, adormece...




“Cansado da mesma cena, Julio percebe que deve fazer outro percurso. A mesma cena se repetia por está correndo pelo mesmo caminho. Agora andando lentamente, decide ir por cima, um caminho de pedras e muitas árvores. A escuridão deixa seu coração disparado, seus olhos molhados e sua boca seca. O barulho de animais em volta faz com que seus pensamentos se apaguem. Julio encontra um lago iluminado pela lua cheia. Indo as margens, decide beber, baixando a cabeça, se assusta ao vê o reflexo de um lobo albino. Julio cai pro lado oposto. Olhando para trás, não vê nada, alem de arvores protegendo o lago. Julio volta pro lago, e vê novamente o reflexo do lobo. Agora olhando pra se mesmo, percebe...

Eu sou um lobo!”
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