_Ju sai logo desse quarto, quero
dormir caramba! Grita Julio por baixo dos panos
_Ju sai logo... A garota sai
desdenhando Julio
_Patética! Murmura Julio fechando mais
forte os olhos.
“A mesma cena correndo até encontrar a
dama e o lobo negro se repetia varias vezes, muitas vezes com cenas retorcidas
e borradas”
Julio acorda soado. Decide tomar um
banho. Hoje é domingo, dia de sair com os amigos para algum sitio. Ou
barzinho... Mas o humor de Julio está sombrio para esse tipo de programa. Mesmo
acordando tarde, parece que o dia não passa. Pela primeira vez depois de muito
tempo, Julio se encontra sozinho na mesa com seu pai que sempre está fazendo
algo. O senhor pai de Julio vive da arte, fazendo trabalhos para uns e pra
outros. Julio desaprova essa vida, e sempre deixou claro que igual ao pai não
vai ser.
Hora do almoço, Julio sentado de
frente pro pai que mexia na comida olhando pro teto, lembra-se de uma noite
passada em que Ygo triste conversava sobre a falta do pai.
“_Julio às
vezes me pego sentindo inveja de você!
_Como? Você
sempre está um passo a minha frente Ygo!
_Não estou
não, você tem um pai que sempre está ai quando você precisa, enquanto eu...
_Cara, você
nunca tinha me falado sobre o seu pai.
_Pois é o meu
pai não gosta dos filhos que têm.
_Não existe
isso. Todo pai gosta do filho...
_O seu
gosta, o meu não!
_Chato
isso...”
_Pai? Começa Julio voltando para sua realidade
_Pai... Tenta mais uma vez ao perceber que nunca tenta se aproximar do pai. E
sempre desiste na primeira tentativa falha.
_Oi?
_É...
_O que?
_Nunca lhe vejo com amigos...
_Você brigou com os seus amigos Julio?
Pergunta o homem ainda sem olhar pro filho
_Como? Perguntou Julio já assustado
por saber que o pai sabe que ele tem amigos. _O que o senhor disse?
_Julio, meu filho, não sofra com a
ilusão de ter um amigo...
_Não entendi pai... Julio não entendeu
mesmo.
_Não existe amigo. Amigo é uma palavra
criada pelo homem para identificar aqueles que estão ali por perto por
interesse.
_Pai isso não parece certo...
_Você veio ao mundo
sozinho, e irá sair dele do mesmo jeito! O homem se levanta _Não se esqueça
disso! Depois se senta na frente do seu computador. Julio fica pensativo e
triste.A tarde passa lenta, Julio fica enfurnado no quarto escuro andando de um lado pro outro sem camisa. Seus pensamentos gritam em sua cabeça que dói tentando entender tudo isso.
_Você está certo pai, ninguém tem amigos! Julio cai na cama, e olhando pra uma aranha que ali passava, adormece...
“Cansado da
mesma cena, Julio percebe que deve fazer outro percurso. A mesma cena se
repetia por está correndo pelo mesmo caminho. Agora andando lentamente, decide
ir por cima, um caminho de pedras e muitas árvores. A escuridão deixa seu
coração disparado, seus olhos molhados e sua boca seca. O barulho de animais em
volta faz com que seus pensamentos se apaguem. Julio encontra um lago iluminado
pela lua cheia. Indo as margens, decide beber, baixando a cabeça, se assusta ao
vê o reflexo de um lobo albino. Julio cai pro lado oposto. Olhando para trás,
não vê nada, alem de arvores protegendo o lago. Julio volta pro lago, e vê
novamente o reflexo do lobo. Agora olhando pra se mesmo, percebe...
Eu sou um
lobo!”