Querido,
único, chato e desnecessário Diário...
Tenho que dizer, que meu dia de folga de hoje não foi tão
insuportável. Pois é, como Kakhuto viajou, Pookie evaporou
e minha mãe só sabe falar da droga do baile, decidi sumir também. Acordei,
não banhei, passei a mão pra assanhar mais o meu cabelo, porque tenho que
confessar, eu quero meu cabelo igual a da Elvira, aquela bruxa
famosa que fez aquele negócio com os mamilos. Aiih que show! Peguei a roupa de
sempre, saia xadrez, gravata e meu laço de caveira que ganhara de presente de
Pookie. Calcei minhas botas de couro sujas de barro e pensei profundamente em
pegar minha bicicleta, mas... Detesto suar, odeio o sol e só de pensar em ter
que pedalar mim sinto tonta. Então decidi ir a pé mesmo. Minha casa nem é tão
longe do centro.
Primeira parada, shopping. O da minha cidade é bem grande,
bonito e cheio de gentinha rica, gentinha que fingi ser rica e gentinha de
pequenas cidades que não tem costume com um lugar grande como o shopping. Mas o
que me irritou hoje foram às milhares de camisetas com a famosa frase “I LOVE
ME”, “I LOVE YOU”, “I LOVE MINHA CIDADE”, “I LOVE MEU EMPREGO”, “I LOVE MINHA
ESCOLA”, “I LOVE ALGUMA COISA” Affs, Affs e Affs. Que porra de “I LOVE”? Sabe o
que eu amo? Nada, andaria com uma dessas camisetas com a minha frase, “I LOVE MERDA NENHUMA”. Ai
sim é atitude e mais, bem verdadeira também, porque tenho certeza que essas
pessoas não amam tudo isso. Duvido que ama sua escola, duvido que ama seu
emprego, seu curso, seu EU profundo e confuso, seu namorado ou vice versa.
Duvido, duvido. Mas quem sou eu pra julgar? Ninguém!
Cansei
do Shopping, cansei de vê pessoas com essas camisetas, então decidi ir à praça
da cidade. Comprei um Milkshake e me sentei num banco. Serio, percebi que
praça é lugar de louco, e eu nem sou tão louca como esse povo. Mendigos
beijando estatua de poeta famoso. Mulheres brigando por algum homem feio e sem
vergonha. Crianças tentando roubar adolescentes. Mulher Bêbeda em pleno sol
mijando na grama. Casal de velhinhos se pegando. Minha nossa, quase não
consegui beber todo meu Milkshake. Enfim, por enquanto estava dando, mas logo
começaram sentar ao meu lado diferentes pessoas. Primeiro uma mulher grávida,
chorava e xingava seu marido.
“Não
é porque meu filho não é dele, que Alberto João tem que me tratar como uma
vadia”; “Ele não se garante e reclama quando fui atrás de um que se garante.”
Eu
hein, nem entendi o que ela quis dizer em se garantir, mas decidi mudar de
banco. Foi quando um senhor se aproximou rindo pra mim sem nenhum dente.
Sentou-se e ficou me encarando por uns segundos, até me perguntar:
“Você estuda menina bonita?”
_Não
é da sua conta velho babão!
“Você quer um doce meu anjinho?”
_Eu
quero mesmo que você morra logo velhinho!
“Quer passear minha lindinha?”
_Só
se você se jogar na frente daquele caminhão de biscoitos de cara de macaco!
“Você quer...”
Não!
Eu não quero!
Lembro de ter jogado meu Milkshake naquele velho curioso e
de uma mulher ter me xingado de alguma coisa.
Eu não liguei e decidi ir pra minha casa, pois a única louca
de lá, sou eu. E ainda não uso blusas mentindo amar alguma coisa. Deu sono, e
amanhã é dia de Baile. E tenho certeza que será meu pior pesadelo.
Vou te deixar aqui em cima da janela, quem sabe chova e te
molhe todo.
Eu ia ser tão menos pior.