Cap. 18 - Palavras

By | 16:48:00 Leave a Comment

As palavras circulavam na cabeça de Julio sem sentido, sem formação, sem significado algum. O diretor não parava de falar sobre o que iria acontecer com ele se seguisse por esse caminho sem volta. Os dois garotos que passaram por Julio no banheiro estavam na sala do diretor, assustados. Julio nota que eles são das primeiras turmas, os mais jovens. Que não sabem de nada, só que aquilo no banheiro é errado. Mas será que eles também sabem que Julio não estava metido naquilo? "Quem eu quero enganar? Eu estava lá, eu aceitei esquecer, eu aceitei o cigarro, eu fumei. Fui pego na cena do crime, onde eu estou ileso de escapar daquilo?". Julio ouve as palavras mãe e pai, depois irmã mais nova que está na sala. Julio sente sua cabeça pesar e doer. "Droga, tenho que fazer algo. Dizer algo."


_Senhor diretor... Julio começa a falar baixinho _Desculpe minha atitude irresponsável. Mas não tem necessidade de preocupar meus pais.
_Isso é o que você me diz, o que me garante que você está tentando fazer minha cabeça pra não fazer o meu papel de responsável por você? Responde o diretor.
_Foi a primeira vez que fiz isso.
_Tudo tem um começo.
_Mas não farei de novo.
_O que te faz pensar que eu acredito no que está dizendo?
_Não sei.
_Desculpe Julio, mas tenho que fazer isso.
_Por favor, não faça. O diretor trocou olhares com alguns professores que estavam na sala _Perdi meu avô. A pessoa que mais me conhecia. O meu melhor amigo. Estou sem chão. E acabei aceitando o cigarro porque está doendo aqui dentro do meu peito, e achei que poderia esquecer, por pelo menos um instante essa dor que não estou sabendo lidar. Não farei isso de novo, e não falo isso por você, ou pela sua escola, faço isso por meu avô que reprovaria minha atitude infame. O diretor o observa por um instante.
_Julio, eu te entendo. Desta vez não falarei com seus pais, mas estarei te observando daqui por diante, e se por a caso, você me fazer me arrepender de não ter avisado seus pais, terei que ter atitudes drásticas sobre sua estadia aqui na minha escola.
_Tudo bem, não irá se arrepender. Julio pega sua mochila do chão.
_Julio?
_Sim diretor?
_Meus pêsames filho.
_Ok. Julio sai da sala do diretor e topa com a estagiaria.
_Julio? Você está bem?
_Não estou. Julio dar as costas para ela e sai da escola.



Julio cai em sua cama do jeito que chegou, apagando logo em seguida. O silencio da casa naquela hora era infernal. Julio se sentia sozinho no mundo. E isso poderia significar muita coisa para o que ele sentia no momento. "Posso está sozinho no mundo para pagar meus pecados." Isso era estupidez, nada do que ele estava pensando naquele momento fazia sentido. Julio só precisava descansar e esquecer tudo. E as palavras, bem, elas estarão ali sempre em sua cabeça, que voltam em uma enxurrada sem pausa. Palavras ditas pelo seu avô sobre tudo. Sobre sua vida quando jovem. Sobre seu primeiro emprego. Sobre seu primeiro relacionamento com uma prostituta. Palavras ditas pelo pai, que lhe enche de pressão, sobre o que você quer da sua vida, o que vai fazer no futuro, porque não se mexe, você não tem nada de seu pai, você não tem nade de sua mãe, você não parece da família. Palavras de sua mãe, que lhe enche de criticas, mas em seguida de carinho e força. Palavras desnecessárias de sua irmã mais nova que acha que tem mais responsabilidade do que ele próprio. As palavras do melhor amigo Ygo. Do diretor da escola. Do mundo. São apenas palavras ditas, com pensar ou com intuito de algum efeito. Mas são palavras que não serão esquecidas ou absorvidas. Não hoje. Não amanhã.Quem sabe quando. 

_Mãe cheguei. Grita Caroline abrindo a porta e se deparando com sua irmã mais nova tendo um ataque de pânico. 
_Beca? O que ouve? A garotinha se batia com olhos dilatados e fixos em algo, talvez em memorias adquiridas a pouco tempo. Caroline ouve coisas sendo arremessadas na parede no quarto dos jundos.
_O que aconteceu aqui? Grita Caroline na porta da outra irmã.
_O pai. Responde sem abrir a porta. 
_Era tudo que precisava saber. Caroline segue para o quarto da mãe que estava sentada na cama imóvel. 
_Acabou. Caroline grita na porta da mãe. _Acabou. Sua mãe se vira lentamente para vê Caroline. _ACABOU.



Continua...



Artes: "Face the Whole" Daehyun Kim/Moonassi e "The Girl" Joan Didion

? Previous Story

O HOMEM QUE FUGIU PRA LUA #1

Next Story ?

O preto e branco dos desprivilegiados

Página inicial
Comentários
0 Comentários

0 comentários: