Filme brasileiro de 2014
dirigido por Fernando Coimbra estrelando Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiula
Nascimento, Juliano Cazarré, Paulo Tiefenthaler, Karine Teles e Antonio Saboia.
Com certeza um dos melhores filmes que vi ano passado.
O Lobo Atrás da Porta traz à tona o que cada um de nós vive. Metaforicamente,
aquilo que sentimos, falamos, nosso sofrimento e o sofrimento que causamos ao
outro, mesmo sem querer, mas, as vezes, almejando nosso próprio deleite; cada
risada ou pranto, tudo aquilo que acontece dentro da nossa casa, ou em qualquer
outro lugar estrategicamente escolhido, com uma fachada bonita, ou ao menos uma
que não desperte interesse.
O
Lobo é o mesmo para todos nós, o contrário também é verdade já que sempre se
manifesta de formas diferentes. É sempre um problema, algo com que temos de
lidar, que temos de manter sempre camuflado por algum motivo racional ou não.
Uns podem achar que o peso que o outro carrega é demais e outros podem achar
que é de menos. O caso é que de um jeito ou de outro o peso de cada um de nós é
suportável, embora inaceitável principalmente nos momentos de revolta. A
despeito disso, sua obrigatoriedade parece ser inquestionável. O Lobo nos consome
a cada dia, pois ele sabe tudo que não teríamos coragem de dizer a ninguém, nem
mesmo a uma divindade em oração, seja em voz alta ou em pensamento, por isso é
tão perigoso. Ele sabe quando dizemos ‘não’ querendo dizer ‘sim’ e quando
dizemos ‘sim’ querendo dizer ‘não’.
Está
escondido de todos, atrás da porta, e não sai até que estejamos sozinhos e
seguros. Essa talvez seja a melhor parte: é violento, torturador, mas é
piedoso, ele não entrega nossa cabeça em uma bandeja de prata para ninguém,
pois se o fizesse não sobraria uma única alma viva no planeta já que todos
criamos um Lobo em casa. Conseguimos adestrá-lo, mas só até certo ponto. Vez ou
outra ele se comporta mal, mas isso ocorre por solidão, não podemos levar nosso
Lobo para conhecer os demais, não temos essa coragem. Parece martírio ter de
viver devotado ao cuidado do nosso Lobo. O animal permanece escondido, pois
pode ser assassinado ao mínimo movimento brusco que atraia atenção. Cuidamos de
uma fera perigosa, presa em uma jaula em condições cruéis, mas não queremos
libertá-la, pois libertá-la significa abrir mão da própria liberdade, da
própria felicidade. E Isso seria loucura, não acha?