Título
original: Marie Antoinette
[sem spoilers
desmedidos] Produção americana de 2006 baseada na biografia da personagem
histórica homônima e protagonizado por Kirsten Dunst; direção e roteiro de
Sofia Coppola. Podemos dizer que, até o momento, este é o trabalho mais controverso
da carreira de Sofia enquanto cineasta. Em sua exibição no Festival de Cannes, Maria Antonieta foi vaiado (!!!). Antes
de conhecê-lo, eu não sabia desse fato, por isso fui pesquisar as causas da
postura da plateia. Dentre as críticas estavam as acusações de anacronismos
(quando julgamos uma época nos baseando nos valores atuais) exagerados,
incoerência estética na trilha sonora e de que o filme parece um videoclipe
adolescente. Quando li esse tipo de coisa, pensei “sim, o filme tem todas essas
características mesmo, não há como negar, mas, nesse caso específico isso é
ruim?”.
Tais críticas são, no mínimo, precipitadas;
logo no começo do filme, a música moderna, a forma que os títulos foram postos
na tela e o take inicial que mostra
Maria Antonieta provando sapatos, são indicadores evidentes de que este não é
um filme de época como qualquer outro. A expressão de deboche no rosto de
Kirsten Dunst quando ela prova o bolo e olha para a câmera deixa isso bem
claro. Sofia faz uma abordagem diferente do que conhecemos sobre filmes de
época e isso, na verdade, é muito bom. A Antonieta criada pela diretora é como
um de nós dentro do filme. Por exemplo, durante toda a “pomposidade” do ritual
de acordar, ela diz, “this is ridiculous!”.
Isso é anacronismo? Sim, mas é também o que todos nós pensamos quando vemos a
cena, que, não por acaso, se repete algumas vezes, até que Antonieta faça sua ~deselegante~
colocação.
A trilha sonora, de forma geral, não é
coerente com um filme de época, mas é o elemento mais comum à personagem, isto
é, Kirsten Dunst no papel de Maria Antonieta é como um peixe fora d’água, tal
qual boa parte das canções que tocam no filme (talvez por ela não ser uma
grande atriz, isso tenha funcionado muito bem). A trilha parece com a
personagem interpretada por Kirsten, não com o contexto. Basicamente, o que
temos é uma adolescente contemporânea que parece ter sido transportada para o
passado. E, vejam só, as questões que perturbam Antonieta não são muito
diferentes do que as mulheres de hoje enfrentam. Os supostos pontos fracos de Maria Antonieta, na verdade são pontos
fortes. Entretanto, se há algo em que Maria
Antonieta não é totalmente satisfatório, isso talvez seja o desenvolvimento
da narrativa, não é um filme “redondinho” onde os eventos dão-se de uma maneira
gostosa de ver: é legal no início, fica monótono no meio e volta a ficar legal
no fim. Claro que esse tipo de coisa já vai da subjetividade de cada um.
A despeito disso, Sofia Coppola faz uma
desconstrução consciente da estrutura básica de um filme de época utilizando
elementos como trilha sonora e a subversão de uma personagem histórica, o
resultado disso é a ausência de pretensões de contar fatos ocorridos sob uma
determinada perspectiva, ou mesmo de usar saudosismo/depreciação para retratar
uma personagem histórica. Acima de tudo, Maria
Antonieta não é um filme didático; aqui, os fatos estão em segundo plano. É
muito mais interessante observar os efeitos que aquele ambiente tem sobre a
protagonista (o trajeto de suas emoções) e a ousadia de um filme que apenas
veste as roupas, adota os modos e desfruta da fartura da Aristocracia europeia
para desenvolver temas relacionados à situação da mulher de hoje e de ontem.
P.
S.
O filme é um colírio para os olhos.