02x02 - Ronie

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Ameaças. Ronie é um garoto que apesar dos apesares é feliz. Mas nem sempre teve uma vida tão animada como está tendo ultimamente.


            Um beijo na testa foi o que o Sr. Valdir deixou para Ronie depois de simplesmente desaparecer do mapa e da vida do filho. O hálito de álcool, algumas marcas no corpo, lembranças macabras de uma vida a dois. Palavrões. Ameaças também foram deixadas para trás junto com o filho menor de idade. Seu pai Valdir, o deixou em casa após uma surra que o garoto levou depois de não ter ido jogar futebol com os garotos da rua quando o churrasco de domingo entre vizinhos acontecia. Ronie nunca esqueceu aquela tarde. Os socos que o pai deu na frente de todos. A cara de sofrimento das mulheres que não tinham coragem de fazer o homem parar de agredir o pobre garoto. A reação de pânico dos garotos que jogavam futebol. E a noite no hospital depois de acordar com dor e sozinho em casa. 

           Aos 13 anos de idade, Ronie aprendeu a se virar sozinho. E com ajuda dos vizinhos que sempre sentiam pena do garoto, teve oportunidades. Ronie sempre soube usar as oportunidades. Trabalhar no supermercado do bairro. Estudar durante os intervalos para conseguir a bolsa na escola Leslie Hardwink. Dividir as contas da casa com outros jovens que vieram de fora. Como Nelsinho, Luna e Lina. Sair nas madrugadas para boates da cidade. Ronie soube se organizar e finalmente ter uma vida. Mas seu mundo caiu ao receber uma notícia de uma vizinha que teve um caso com seu pai três anos atrás. “_Filho seu pai ligou na madrugada morto de bêbado. Disse que está voltando. Não queria te trazer essa noticia terrível, mas não quero que ele te pegue de surpresa. Se prepare.” Dona Ângela era casada, mas vivia transando com Valdir pela casa, até certa noite, seu marido voltar mais cedo das suas viagens de trabalhos e encontrar os dois juntos. A noite foi longa, com direito a muitos vizinhos e policiais para acalmar a briga. Ângela e seu marido continuam juntos. Mesmo depois de tudo, e a mulher sempre que podia deixava algo para Ronie quando o garoto foi deixado para trás. Com a notícia Ronie avisou aos amigos que dividiam a casa, pois sabia que não ia dar certo se seu pai chegasse e encontrasse a casa cheia de adolescentes. Nelsinho, Lina e Luna se mudaram para uma pensão na mesma rua, de um velho senhor solitário. Ronie continuou sua vida sempre da expectativa de chegar em casa e encontrar o velho na sala bêbado.
            O vento frio batia nos cabelos dourados de Ronie enquanto pedalava ao som de Madonna. Seu óculos em forma de coração vermelho combinando com o macacão. Ronie entra na rua seguinte, de pedras e estreita, onde fica o setor onde mora, prédios de quatro andares preenchem a paisagem. O garoto aperta o sino quando passava pelos vizinhos que lhe olhava com um olhar melancólico. Ronie chega à grade da sua casa e nota que está aberta. O garoto sente seu coração acelerar. Joga a bicicleta na grama alta juntamente com os óculos e entra correndo pela porta encostada. _Pai?! O garoto deixa escapar em som de pânico, seu pai vira lentamente para o filho.
_Moleque como cresceu! Ronie fica paralisado ao vê seu pai depois de dois anos e meio. Cabelos mais grisalhos, mas continua forte. O olhar ainda é o mesmo, e o medo parece maior. _Não vai abraçar seu pai? Ronie não sente as pernas se movimentarem. _Vamos moleque, venha me abraçar! Ronie se aproxima do homem e se joga devagar no peito peludo do pai. _Sentiu saudades? O som grave e o deboche do sentido da pergunta fez Ronie chorar. _Voltei para ficar, prometo não sair mais do seu lado garotão! Agora, me responda, porque nessa casa não tem cerveja? O homem larga o garoto e vai saindo pela porta. Ronie fica sentado no sofá ainda tentando entender tudo. _Ah a garota do seu lado é sua irmã. Diga oi para Mel. Ronie se vira e nota a garota de 13 anos sentada no sofá com olhos assustados. O cabelo loiro lembra Ronie, pois é do pai. Os olhos claros também. A garota é muito parecida com ele mesmo, até o medo que transparece nela, parece com o medo dele. “Meu Deus, então é assim que todos me veem? Assustado?” Pergunta Ronie para ele mesmo. _Vou comprar umas cervejas, volto já! O homem sai pela porta deixando os dois sentados.
_Oi Mel. Tenta se comunicar Ronie com a irmã. Mas a garota não fala nada. Ronie a observa por um tempo, pega o celular e corre para o banheiro. _Atende Verona, por favor. Atenda. “Sua ligação está indo para caixa de mensagem”._Droga! Ronie chorando desesperado olhando o espelho. _Meu Deus não posso viver o inferno que vivi, por favor, não deixe que eu viva isso novamente. Ronie tenta ligar novamente, mas não dar certo. Então ele se lembra do número de Sol que está anotado no caderno. Ele digita os números, _Alô? Ronie?
_Sol, pelo o amor de Deus, preciso conversar com você. Preciso de uma amiga. Ronie sai de casa, olhando a garota sozinha na mesma posição no sofá. _Volto... Ronie não consegue falar, deixando a garota para trás e sai com a sua bicicleta.

            Ronie chega à praia, Sol está sentada com um enorme chapéu olhando o mar. _Oi, cheguei, você tem um cigarro ai? Sol assustada responde que não fuma. _Ok então. Eu estou precisando me acalmar. Não estou bem Sol, me ajude. Ronie cai nas pernas de Sol e começa a chorar. Os dois conversam a tarde inteira, Ronie conta toda a história, lá do inicio. _Estou assustado, ele não sabe que sou gay, mas o pior que todos ali já sabem, não sabia que ele iria voltar. Achei que nunca mais iria vê-lo novamente. Quando ele descobrir, ele vai me matar Sol. Temo por mim, temo pela minha irmã. Uma garota que tá na cara que anda sofrendo. Não sei onde anda a mãe dessa garota, não sei o porque ela veio com ele. Não sei de nada. Só sei que estou com tanto medo, que nem sei como vou lidar com isso.
_Estou assustada por você. Não sei como posso te ajudar. Você devia sair daquela casa. Você pode viver sozinho, como viveu esses dois anos. Não está mais obrigado a viver com ele, venha comigo. Ed não vai ligar. Fica com a gente até você arrumar um lugar seguro para você.
_Ronie, cheguei. Luna chega correndo e abraça o amigo. _Meu Deus, não acredito que ele voltou mesmo.
_Luna estou com medo dele descobri.
_Ronie você não pode ficar naquela casa com ele, você tem que sair de lá. Vamos para a pensão onde estou. Lá tem lugar para você. Vamos. Diz Luna segurando a mão de Ronie.
_Verdade Ronie, vamos com você na sua casa, pegamos suas coisas e vamos para pensão enquanto é cedo. Diz Sol do outro lado de Ronie.
_Não posso deixar minha irmã com ele, não quero que ela viva o que vivi, ela não merece. Diz Ronie assustado.
_Pois levamos ela junto. A pensão é grande, tem lugar. O Sr. Sebastião vai receber vocês de braços abertos. Ronie, Sol e Luna vão rumo ao setor onde Ronie mora. Logo anoitece. Os três param na frente da casa. Ronie respira fundo e entra lentamente pela porta da casa. A casa está em silencio e no escuro. Como se seu pai não tivesse voltado ainda. Ronie chama por Mel. Mas não é respondido. _Cadê minha irmã? Sol e Luna vão nos quartos. Ronie procura do outro lado. Um barulho de soluço chama atenção de Sol. O barulho vem de dentro do guarda-roupas. A garota abre a porta e encontra a jovem garota chorando e encolhida no canto. _Oi? Você é a Mel? A garota responde com a cabeça. _Luna achei a irmã do Ronie. Luna se aproxima de Sol. _Vamos, saia daí, vamos te levar para um lugar seguro. Diz Luna. Mas a menina assustada não quer sair. _O que foi? Pergunta Sol. A menina trêmula tenta falar.
_Ro-Ronie... P-Pai... Louco.
_Não estou entendendo. Diz Luna olhando Sol
_Respira e fala devagar.
_P-Pai está louco! Diz  garota. Sol arregala os olhos para Luna.
_RONIE! Grita Luna, mas o grito da garota é abafado pelo o grito do garoto que é jogado contra a parede na cozinha. _SOCORRO!

            Valdir o segura pelo pescoço contra a parede. Ele está bêbado. Louco. E armado com uma faca de cozinha. _Vou te matar seu bicha filho da puta. Sol e Luna chegam na cozinha assustada. _Ah meu Deus. Grita Sol. _Liga para policia agora! Diz Sol para Luna que trêmula pega o celular. _Senhor não nos conhecemos, mas sei que não quer matar seu filho. Tenta acalmar Sol conversando com o homem que tá com a faca no pescoço de Ronie. _Deixa Ronie em paz. _Cala a sua boca sua vadia. Grita o homem apontando a faca para Sol. _Sabe o que eu encontrei nas suas coisas enquanto procurava um cd bom meu filho? Ronie não se controla, e começa a chorar. _Encontrei um DVD. E sabe de que? Um DVD pornô gay. Homens se comendo. A coisa mais nojenta do mundo. E sabe o que tem nele? Seu nome. Sempre soube que você tinha um jeito afeminado, mas não acredito que você seja um viado. Meu único filho homem é viado. Não vou permitir que ande por ai, sujando o meu nome. Vou te matar agora, prefiro ficar preso do que ter um filho bicha. Muitas palavras foram ditas na noite que parecia estrelada, mas estava turva de tanto medo. Sol ligava para o irmão que logo chegou a casa. Nelsinho também apareceu na casa. Policiais chegaram, conseguindo prender o homem que deixou não apenas o pescoço de Ronie marcado, como também seu coração. Filho que nunca vai ser aceito pelo pai, assim como não foi pela mãe. Já que a mulher o deixou com o homem depois que ele completou um ano. Ronie está em choque, mas está entre quem realmente gosta dele. Cercado de amigos, Ronie é levado para o hospital.
            Dia seguinte, Ronie recebe visita de Sol e Luna, que tentam explicar que sua irmã desapareceu na noite da confusão, e que mesmo com Nelsinho, Ed, Verona e Lina na rua a sua procura, não a acharam.

Trilha Sonora:
 Madonna - papa don't preach
Papa Don't Preach by Madonna on Grooveshark
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