Ameaças.
Ronie é um garoto que apesar dos apesares é feliz. Mas nem sempre teve uma vida tão
animada como está tendo ultimamente.
Um beijo na testa foi o que o Sr.
Valdir deixou para Ronie depois de simplesmente desaparecer do mapa e da vida
do filho. O hálito de álcool, algumas marcas no corpo, lembranças macabras de
uma vida a dois. Palavrões. Ameaças também foram deixadas para trás junto com o
filho menor de idade. Seu pai Valdir, o deixou em casa após uma surra que o garoto
levou depois de não ter ido jogar futebol com os garotos da rua quando o
churrasco de domingo entre vizinhos acontecia. Ronie nunca esqueceu aquela
tarde. Os socos que o pai deu na frente de todos. A cara de sofrimento das mulheres
que não tinham coragem de fazer o homem parar de agredir o pobre garoto. A
reação de pânico dos garotos que jogavam futebol. E a noite no hospital depois
de acordar com dor e sozinho em casa.
Aos
13 anos de idade, Ronie aprendeu a se virar sozinho. E com ajuda dos vizinhos
que sempre sentiam pena do garoto, teve oportunidades. Ronie sempre soube usar
as oportunidades. Trabalhar no supermercado do bairro. Estudar durante os
intervalos para conseguir a bolsa na escola Leslie Hardwink. Dividir as contas
da casa com outros jovens que vieram de fora. Como Nelsinho, Luna e Lina. Sair
nas madrugadas para boates da cidade. Ronie soube se organizar e finalmente ter
uma vida. Mas seu mundo caiu ao receber uma notícia de uma vizinha que teve um
caso com seu pai três anos atrás. “_Filho
seu pai ligou na madrugada morto de bêbado. Disse que está voltando. Não queria
te trazer essa noticia terrível, mas não quero que ele te pegue de surpresa. Se
prepare.” Dona Ângela era casada, mas vivia transando com Valdir pela casa,
até certa noite, seu marido voltar mais cedo das suas viagens de trabalhos e
encontrar os dois juntos. A noite foi longa, com direito a muitos vizinhos e
policiais para acalmar a briga. Ângela e seu marido continuam juntos. Mesmo
depois de tudo, e a mulher sempre que podia deixava algo para Ronie quando o
garoto foi deixado para trás. Com a notícia Ronie avisou aos amigos que dividiam
a casa, pois sabia que não ia dar certo se seu pai chegasse e encontrasse a
casa cheia de adolescentes. Nelsinho, Lina e Luna se mudaram para uma pensão na
mesma rua, de um velho senhor solitário. Ronie continuou sua vida sempre da
expectativa de chegar em casa e encontrar o velho na sala bêbado.
O vento frio batia nos cabelos
dourados de Ronie enquanto pedalava ao som de Madonna. Seu óculos em forma de
coração vermelho combinando com o macacão. Ronie
entra na rua seguinte, de pedras e estreita, onde fica o setor onde mora,
prédios de quatro andares preenchem a paisagem. O garoto aperta o sino quando
passava pelos vizinhos que lhe olhava com um olhar melancólico. Ronie chega à
grade da sua casa e nota que está aberta. O garoto sente seu coração acelerar.
Joga a bicicleta na grama alta juntamente com os óculos e entra correndo pela
porta encostada. _Pai?! O garoto deixa escapar em som de pânico, seu pai vira
lentamente para o filho.
_Moleque
como cresceu! Ronie fica paralisado ao vê seu pai depois de dois anos e meio.
Cabelos mais grisalhos, mas continua forte. O olhar ainda é o mesmo, e o medo
parece maior. _Não vai abraçar seu pai? Ronie não sente as pernas se
movimentarem. _Vamos moleque, venha me abraçar! Ronie se aproxima do homem e se
joga devagar no peito peludo do pai. _Sentiu saudades? O som grave e o deboche
do sentido da pergunta fez Ronie chorar. _Voltei para ficar, prometo não sair
mais do seu lado garotão! Agora, me responda, porque nessa casa não tem
cerveja? O homem larga o garoto e vai saindo pela porta. Ronie fica sentado no
sofá ainda tentando entender tudo. _Ah a garota do seu lado é sua irmã. Diga oi
para Mel. Ronie se vira e nota a garota de 13 anos sentada no sofá com olhos
assustados. O cabelo loiro lembra Ronie, pois é do pai. Os olhos claros também.
A garota é muito parecida com ele mesmo, até o medo que transparece nela, parece
com o medo dele. “Meu Deus, então é assim
que todos me veem? Assustado?” Pergunta Ronie para ele mesmo. _Vou comprar
umas cervejas, volto já! O homem sai pela porta deixando os dois sentados.
_Oi
Mel. Tenta se comunicar Ronie com a irmã. Mas a garota não fala nada. Ronie a
observa por um tempo, pega o celular e corre para o banheiro. _Atende Verona,
por favor. Atenda. “Sua ligação está indo para caixa de mensagem”._Droga! Ronie
chorando desesperado olhando o espelho. _Meu Deus não posso viver o inferno que
vivi, por favor, não deixe que eu viva isso novamente. Ronie tenta ligar
novamente, mas não dar certo. Então ele se lembra do número de Sol que está
anotado no caderno. Ele digita os números, _Alô? Ronie?
_Sol,
pelo o amor de Deus, preciso conversar com você. Preciso de uma amiga. Ronie
sai de casa, olhando a garota sozinha na mesma posição no sofá. _Volto... Ronie
não consegue falar, deixando a garota para trás e sai com a sua bicicleta.
Ronie chega à praia, Sol está
sentada com um enorme chapéu olhando o mar. _Oi, cheguei, você tem um cigarro
ai? Sol assustada responde que não fuma. _Ok então. Eu estou precisando me
acalmar. Não estou bem Sol, me ajude. Ronie cai nas pernas de Sol e começa a
chorar. Os dois conversam a tarde inteira, Ronie conta toda a história, lá do
inicio. _Estou assustado, ele não sabe que sou gay, mas o pior que todos ali já
sabem, não sabia que ele iria voltar. Achei que nunca mais iria vê-lo
novamente. Quando ele descobrir, ele vai me matar Sol. Temo por mim, temo pela
minha irmã. Uma garota que tá na cara que anda sofrendo. Não sei onde anda a
mãe dessa garota, não sei o porque ela veio com ele. Não sei de nada. Só sei
que estou com tanto medo, que nem sei como vou lidar com isso.
_Estou
assustada por você. Não sei como posso te ajudar. Você devia sair daquela casa.
Você pode viver sozinho, como viveu esses dois anos. Não está mais obrigado a
viver com ele, venha comigo. Ed não vai ligar. Fica com a gente até você
arrumar um lugar seguro para você.
_Ronie,
cheguei. Luna chega correndo e abraça o amigo. _Meu Deus, não acredito que ele
voltou mesmo.
_Luna
estou com medo dele descobri.
_Ronie
você não pode ficar naquela casa com ele, você tem que sair de lá. Vamos para a
pensão onde estou. Lá tem lugar para você. Vamos. Diz Luna segurando a mão de
Ronie.
_Verdade
Ronie, vamos com você na sua casa, pegamos suas coisas e vamos para pensão
enquanto é cedo. Diz Sol do outro lado de Ronie.
_Não
posso deixar minha irmã com ele, não quero que ela viva o que vivi, ela não
merece. Diz Ronie assustado.
_Pois
levamos ela junto. A pensão é grande, tem lugar. O Sr. Sebastião vai receber
vocês de braços abertos. Ronie, Sol e Luna vão rumo ao setor onde Ronie
mora. Logo anoitece. Os três param na frente da casa. Ronie respira fundo e entra
lentamente pela porta da casa. A casa está em silencio e no escuro. Como se seu
pai não tivesse voltado ainda. Ronie chama por Mel. Mas não é respondido. _Cadê
minha irmã? Sol e Luna vão nos quartos. Ronie procura do outro lado. Um barulho
de soluço chama atenção de Sol. O barulho vem de dentro do guarda-roupas. A
garota abre a porta e encontra a jovem garota chorando e encolhida no canto.
_Oi? Você é a Mel? A garota responde com a cabeça. _Luna achei a irmã do Ronie.
Luna se aproxima de Sol. _Vamos, saia daí, vamos te levar para um lugar seguro.
Diz Luna. Mas a menina assustada não quer sair. _O que foi? Pergunta Sol. A
menina trêmula tenta falar.
_Ro-Ronie...
P-Pai... Louco.
_Não
estou entendendo. Diz Luna olhando Sol
_Respira
e fala devagar.
_P-Pai
está louco! Diz garota. Sol arregala os
olhos para Luna.
_RONIE!
Grita Luna, mas o grito da garota é abafado pelo o grito do garoto que é jogado
contra a parede na cozinha. _SOCORRO!
Valdir o segura pelo pescoço contra
a parede. Ele está bêbado. Louco. E armado com uma faca de cozinha. _Vou te
matar seu bicha filho da puta. Sol e Luna chegam na cozinha assustada. _Ah meu
Deus. Grita Sol. _Liga para policia agora! Diz Sol para Luna que trêmula pega o
celular. _Senhor não nos conhecemos, mas sei que não quer matar seu filho.
Tenta acalmar Sol conversando com o homem que tá com a faca no pescoço de
Ronie. _Deixa Ronie em paz. _Cala a sua boca sua vadia. Grita o homem apontando
a faca para Sol. _Sabe o que eu encontrei nas suas coisas enquanto procurava um
cd bom meu filho? Ronie não se controla, e começa a chorar. _Encontrei um DVD.
E sabe de que? Um DVD pornô gay. Homens se comendo. A coisa mais nojenta do
mundo. E sabe o que tem nele? Seu nome. Sempre soube que você tinha um jeito
afeminado, mas não acredito que você seja um viado. Meu único filho homem é
viado. Não vou permitir que ande por ai, sujando o meu nome. Vou te matar
agora, prefiro ficar preso do que ter um filho bicha. Muitas palavras foram
ditas na noite que parecia estrelada, mas estava turva de tanto medo. Sol
ligava para o irmão que logo chegou a casa. Nelsinho também apareceu na casa.
Policiais chegaram, conseguindo prender o homem que deixou não apenas o pescoço
de Ronie marcado, como também seu coração. Filho que nunca vai ser aceito pelo
pai, assim como não foi pela mãe. Já que a mulher o deixou com o homem depois
que ele completou um ano. Ronie está em choque, mas está entre quem realmente
gosta dele. Cercado de amigos, Ronie é levado para o hospital.
Dia seguinte, Ronie recebe visita de
Sol e Luna, que tentam explicar que sua irmã desapareceu na noite da confusão, e
que mesmo com Nelsinho, Ed, Verona e Lina na rua a sua procura, não a acharam.
Trilha Sonora:
Madonna - papa don't preach