Querido Diário,
Mas
um evento idiota do patético colégio que estudo faz com que todas essas
pessoinhas chatas e sem noção de ponto de vista sobre a pobre vidinha falarem
mais que as três curicas e o casal de papagaios da minha tia que sempre diz
“_Como Cresceu Hilley”. Affs como eu odeio essas coisas sem sentido. Quem foi o
desempregado e solitário ser que inventou a merda do baile de inverno?
Pra
mim, não faz sentido e tanto faz o nome que dão, mas tudo não passa de
festinhas pra mães emperiquitar suas filhas com ridículos vestidos rosa e
cheios de laços e tules. Como minha mãe. Eu mesma não vou. Ou não queria. Todos
sabem o quanto odeio isso. O quanto mando todas essas pessoas pro inferno. Mas
é obrigatório. E nota é tudo. Maldita professora de Educação Física. Margarete
alguma coisa. Ela é chata. Como todos os outros professores.
Estou
tão infeliz que até me esqueci, sou Hilley e acabei de
completar 11 anos, e você é o meu presente de aniversario de um amigo da mamãe,
o psicólogo Alberto. Ele acha que sou diferente das outras crianças. Mas não
sou não. Não é por eu odiar ficar em uma piscina de lama como as outras que
quer dizer que sou anormal.
Cheguei
à droga da escola atrasada, e o Joaquim, um nerd que usa um par de óculos maior
que aquela cabeça de melancia veio falar comigo, e dá pra acreditar que ele
disse que somos diferentes e merecíamos ir ao baile juntos? Sabe o que eu fiz?
Mandei-o se catar e chutei aquela bunda seca. Isso me fez bem, pois quase nada
me faz bem. Meus melhores amigos fazem, Pookie e Kakhuto são
meus amigos desde o primário e estão sempre comigo. Ninguém mexe com eles, pois
eu não gosto. Falando neles, Kakhuto vai se livrar da merda do baile, pois
viajara com seus pais e já tem a permissão da mala da professora. Já Pookie
está toda misteriosa sobre seu par, e bem animada também, nem sei o porquê, só
sei que ela é do tipo que ama ser a princesinha da vida de contos de fadas. Usa
muitos laços e muito tule no seu vestidinho de boneca. Mas não posso negar, os
dois me acompanham no bom gosto musical, o clássico e bom Rock’n Roll. Nada
contra os outros gêneros, mas ninguém merece as letras profundas da merda do
funk. A melodia da droga do forró, e nem vou citar o pagode e o axé. Enfim...
Gosto é individual.
Não
queria falar da traste da Carlitinha logo na primeira pagina, mas não posso
negar que é a pessoa que mais deixa o meu lado obscuro fluir. Sonho todas as
noites arrancando todos os fios loiros da cabeça dela. Um por um. Acordo tão
menos pior. Falando em acordar menos pior, hoje acordei péssima. Odeio acordar
cedo. Minha mãe estava no telefone falando com sua irmã, àquela tia que fala
sempre a mesma coisa quando me vê. Enfim...
As
pessoas da minha escola dão espaço quando passo. Não sei o porquê, mas tem medo
de mim. Nunca fiz nada de mais... Fiquei sabendo que me chamam de EMO-XITA, e
sim, Chita de macaco. Estou nem ai, podem me chamar de qualquer jeito. Isso não
vai mudar o ódio que já sinto por eles mesmos. Pookie e Kakhuto passaram o dia
de hoje tentando arrumar um par que por sinal eu não quero, vieram alguns
corajosos, outros gritaram e saiam correndo quando ouviam meu nome. E eu? Estou
cagando pra eles e pra esse baile de bosta.
Já cansei de escrever nessa merda de diário. Estou me
sentindo idiota em está fazendo isso. Na verdade, a pergunta da noite de hoje
é, porque as pessoas escrevem em diários?
Com
muito desgosto, Hilley.